Faz acontecer em silêncio o som das tuas palavras
sábado
quarta-feira
a casa encontrada
A sala perdida no meio da casa,
respondeu o quarto em auxílio. A porta confidencia a janela a prolongar-se num
rasgo. A casa ficou de pé perdida pelo chão que levantou paredes onde o tecto
cai várias vezes depois da chuva.
quinta-feira
vazios para sorrir
o corredor dentro de casa para sair
dela. O caminho para o parque está em cada pé, em cada passo em cada olhar, em
cada movimento do braço onde também ele caminha. A rua fica estreita, as
pessoas passam umas atrás das outras, a pressa e a zanga, o correr do dia para
chegar a um sítio, a um momento. Os olhares perdidos à procura, à procura do
instante onde tudo fica bem. Onde se volta a respirar. E tudo passa. Porque as
pessoas querem que as coisas passem,
mas não querem passar por elas.
Diariamente, o mesmo caminho com as
mesmas pessoas, a mesma vontade, o mesmo nada. A ruptura vazia. O vazio que sai
dos pés está na rua e cola-se a outros andares. Há sorrisos que levam esses
vazios perdidos e os enchem e desfazem e eles já não vivem tristes, ficam
vazios para sorrir.
segunda-feira
sexta-feira
segunda-feira
Opera o meu sonho durante a noite
A chegada começou quando a porta se
decidiu por abrir. Abrir-se a deslizar pelo chão. A voz disse em tom calmo e seguro
-A imitação dos verdes nas várias árvores do
jardim, do lado de fora da casa, dentro do mundo. O vento a soprar as folhas
das árvores para o chão, da mesma maneira suave, o vento a soprar as palavras
para fora da voz ou para dentro da escuta do corpo parado e de olhos fechados a
olhar o interior.
- Bom dia Hoje – só lhe estava na mão este agora.
- Que bom chegaste!
– Sim, a este dia para te encontrar. O dia que aconteceu foi ontem
durante a manhã e hoje voltamos a estar num dia diferente que acompanha a
frequência de nos voltarmos a encontrar no ponto em que nos deixámos.
- Na frequência - Opera o meu sonho durante a noite.
VICENTE 2011 - Travessa da Ermida
"Vicente é o nome do santo padroeiro da cidade, cujo corpo martirizado chegou ao Tejo acompanhado de dois corvos que nunca deixaram de sobrevoar o navio, desde Sagres. (...) Vicente terá sido também o nome do avô de Santo António. (...) E, agora, Vicente é também nome de projecto. Memória, mito, criatividade, futuro, Vicente é a batida do desassossego."
Simeon Nelson
quinta-feira
areia no grão
A melhor entrada para o deserto
começou. Ao deserto que nada lhe falta, nem sombra nem luz, a areia pálida na fraqueza
escondida na água revela a areia escondida nos olhos. A mensagem antiga nos
tempos permanece aberta à leitura das mãos enterradas no vazio do seco
emprestado ao vento
- O caminho do vento aberto rege os horizontes -
As
não vontades caídas para cima repetem-se, repetem-se mais uma vez sem o
nascimento. A porta fecha-se. A casa cai. O vento volta consigo e mexe mais uma
vez as voltas das terras, levanta raízes que pareciam profundas de encontro ao
mar de dentro. Depois já nada resta afinal que desfaça o perdido. Perdido na
areia de cada grão de volta do vento para levar para longe. Porque o perto
perdeu-se com vontade própria. O grão de areia ficou enterrado sem água.
terça-feira
aspiração
Aqui agora,
caminham seres ao nosso lado que não deixam marcas no chão, deixam o seu
registo na elevação do corpo para em breves instantes entrarem no movimento
aberto ao qual se pode chamar - liberdade livre.
Para o
encontro entre corpos que não se vêm – e o seu registo não se regista no
tempo – o encontro manifesta-se na visualização de olhos fechados ou abertos consoante
o toque desvelado. Em vários momentos, quase sempre permanentes, estes corpos não
ficam retidos ou escondidos, multiplicam-se e mantêm-se à espera de serem
resgatados pelo ser presente no corpo que pisa o chão para dar o salto e sem
tocar trespassar a copa das árvores e caminhar a aspiração. Caminhar a aspiração.
quinta-feira
voz azul
A divulgação
do sorriso por entre os olhos de vários corpos finos finos como árvores azuis no tempo que
não se desfaz, desaparece sem nunca ter existido para não voltar a existir.
A palavra
maior repousa dentro da outra – a palavra aberta para o mar que regressa ao
interior da mão (sem rasgar)
Silencio
para o silêncio – o traço maior escuta e fica sempre perto do silêncio à espera
de uma pausa para se mexer, subtilmente, quase sem dar por isso – no regresso –
que palavras trazem a tua voz azul?
quarta-feira
quinta-feira
sábado
terça-feira
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